Acerca de mim

10 julho, 2012


"Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu
O caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou.
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei
Para lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
Para voltar a viver
Já não sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber."

27 abril, 2012

avesso


Vou deixar a minha cobardia de lado e vou dar aos meus dedos uma dança directa à verdade. Vou cortar toda esta passividade que me reveste e vou deixar a carne viva mostrar o quanto me sinto magoada e desprotegida por dentro, vou deixar o sangue pulsar, criar volume nas veias e jorrar as paredes que me impedem de voar. Anseio que a minha mente se abra mas que não desabe, quero mostrar o que vale, o que consegue guardar por tanto tempo, aquilo que ama e aquilo que repugna, quero que se livre de todos os gestos e palavras desleais, quero que queime ainda mais todos os cenários infernais, quero que escoe todo o lixo que a põe doente, quero que esta deixe de ser descrente. Quero vida, quero fogo que me aqueça as mãos e paixão que me aqueça o peito... para que este não trema mais. Peço e não paro de pedir que se torne forte, que desenvolva um escudo, que não se deixe corromper, quero-o irrequieto, quente e vermelho! não este órgão albino que tantas vezes me vem à boca.
Quero descobrir para onde se mudou a minha casa, e com ela, os meus corações, os meus saberes, as minhas leis. Procuro pessoas, procuro novas estrelas, novos guias, novos livros e boas verdades, procuro um barco que há muito tempo naufragou. Procuro o meu avesso sem me poder virar.

30 março, 2012

Labirinto

(desculpem-me a ausência - aquela que nem notei, confesso. O tempo parece voar e eu fico retida nele, onde quer que ele me deixe. Deixou-me bem longe daqui, e pelos vistos, bem longe de mim também. É com algum desapego que venho aqui hoje, sinto-me estranha neste espaço, neste ou em qualquer outro, mas quero adaptar-me de novo.
Não me julguem, não me culpem, apenas leiam e sintam-se abraços pelo carinho - aquele que tem tanta vontade de voltar)


E toda eu também tenho vontade de voltar...de me revestir das minhas origens. Aquelas que me são tão queridas e que me vestem como ninguém. As que me deitam à noite e acordam de manhã, sempre com um beijo adocicado de quem diz tudo, sem dizer absolutamente nada. Privaram-me disso, privaram-me de mim própria, e agora não sei mais onde me encontrar.
Este labirinto não se fez sozinho, o destino por si só não se faz tão complexo, não traça caminhos tão longos e muito menos se priva de não desenhar qualquer saída. Há sempre uma, certo? Podemos errar de várias formas, podemos ser inconvenientes, podemos ser a intolerância em pessoa e a pressa de ambicionar sempre mais, podemos até ser engolidos pelo nossa própria inocência, mas há sempre uma luz, certo? Se há para quem pratica porque não há para quem é vitima de todas estas práticas? Não... este labirinto não foi concebido pelo destino, foi concebido por outra identidade, que nela não exerce nada de transcendente, que nela tem tudo de concreto, formas bem definidas e capacidades idênticas às de quem agora caminha, em desespero . Foram pessoas, pessoas como vocês, pessoas como eu. Duas identidades, uma diferente da outra, mas que noutros caminhos, talvez em outros labirintos, já colidiram. Uma delas, com o rancor na consciência, a saudade no coração e a esperança no sorriso, sorriso esse que também se sabe transformar, que sabe enganar e que sabe encobrir a maldade nele patente. Foi essa que desenhou todo este labirinto, nestes tons de carvão que, sem eu querer, engolem todo o meu orgulho e me tornam descrente da minha possível escapatória. A outra? Bem, a outra foi conduzida, levada pela ambição da criadora de tudo isto, foi vitima da sua própria inocência e não soube abrir os seus grandes olhos. Alma desatenta que, sem se aperceber, vincou todos estes trajectos indefiníveis que agora percorro. Acabou por responder na perfeição à pessoa com quem fez parceria.

Agora queres tirar-me daqui? Podes tentar, mas sabes...acho que já não se trata de um labirinto, mas sim de um campo de batalha. E eu? eu não sei se tenho armas suficientes.

20 fevereiro, 2012

love, love, love

- sabes, às vezes acho que nao valho nada. Depois olho para ti e penso que devo valer alguma coisa...


- às vezes tambem acho que nao sou nada... depois olho para ti e vejo quanto um "nada" se enche tão bem com um tudo.

12 fevereiro, 2012

Parapeito


Se a memória e o frio não me falham, o relógio sentia-se pressionado perante a minha ansiedade de te ter e o tempo não era este, era bem mais quente. Tudo isto que agora me pesa sobre a pele, substitui-te sem te substituir, tenta ocupar o papel do teu corpo nos dias em que a chuva cheira à tua ausência e nas noites em que a cama denuncia a sua frieza.
A noite que te narro pela segunda vez, revelou-se inquietante e calorosa. Verti suor mesmo sem a fricção da nossa pele, transpirei o teu odor retardado que voltei a inalar e deixei-me possuir pelo desejo que me fantasiava a mente.
Não estavas lá para mim, e num misto de desespero e inspiração, tentei escrever algo quase tão perfeito como tu, como o teu poder em mim e o teu poder em nós...
E foi depois dessa noite que selei todas as minhas cartas, que guardei as nossas histórias para mim em sucessivos capítulos, deixando o papel amarelar no parapeito da minha memória. Também ao sol os meus dedos inúteis ficaram, cremei-os a eles e às exaltações do meu coração, ou melhor, do coração que é teu. E desde então, sou um corpo vulgar.
O tempo encarregou-se de passar, e neste intervalo que ainda voa, beijo-te em segredo, soletro todos os encantos ao teu ouvido e escondo-te a ti e a mim nas folhas que se passeiam pelo parapeito, pela minha cama, e por mim - aqui dentro.
Estou sentada no sitio em que perdi algumas noções e sinto que estou a tentar assumir um papel que já não me pertence, talvez algo que já não me é genuíno, tal como um vestido que já não assenta nas curvas que nós, raparigas, tanto queremos reaver. E este dom, que ficou por aí perdido, que talvez o vento tenho levado do meu parapeito, é a arte de espelhar, de sentir sem tocar, de chorar ou sorrir atento, de escrever para quem se ama. E eu quero escrever de novo para mim, para ti, para nós, e para vocês.
Recuperar o meu dom e as suas escrituras.

Seguidores