Era meia noite em ponto e eu acabara de chegar do trabalho.
Completamente limpa por dentro, sem comer, beber, e o mais incrível de tudo, sem fumar, dirigi-me à cozinha e recorri a substancias ilícitas sem me preocupar em fazê-las desaparecer com moderação. Já há muito que esta rotina é o momento alto dos meus dias, é uma forma de brindar ironicamente o meu fracasso profissional e emocional que se tem arrastado ao longo destes anos cheios de nada. Senti-me anestesiada por longas horas mas o meu cérebro não descolou de ti... Conhece-mo-nos à uns meses atrás, no hardrock café em Lisboa, destacaste-te entre a multidão, e eu, já um bocadinho alterada, tentei puxar conversa. As palavras trocadas facilmente fluíram entre nós, na melhor das hipóteses por te teres interessado imediatamente por mim, ou então, por eu naquele dia estar com uma valente argumentação devido também à valente pedrada. Sugeris-te que fossemos até à praia mais próxima, e que aí, conversássemos mais calmamente. E foi aí que tudo começou! Contei-te os capítulos mais marcantes da minha inexperiente vida, e tu partilhaste também a tua vida monótona comigo, descobrindo em conjunto, diversas coisas em comum.. Fiquei deliciada com o teu jeito de falar, com a forma como tocavas no cabelo quando estavas nervoso e com o teu sorriso, estava ali o inicio de uma grande amizade... mas eu "não olhei para ti apenas como um amigo, olhei para ti como uma mulher olha para um homem"- com desejo. Nessa noite levaste-me a casa, saí do carro e desejei-te boa noite debruçada na janela do teu lado, afastaste uma madeixa de cabelo da minha cara, despediste-te de mim com um beijo subtil e sem compromissos e aceleraste rapidamente sem me dar tempo de reacção.
Pensei que nunca mais te iria ver e essa duvida pairou diante dos meus olhos durante várias noites em branco, até que, na semana passada na estação de comboios, em que tu estavas do outro lado da linha, o nosso olhar congelou ao presenciar a imagem um do outro. Atravessaste-a rapidamente e a cada passo que davas a minha pulsação aumentava com a tua aproximação, beijaste-me... já não de forma subtil, mas como um animal domado pelo desejo!
Com medo que o tempo se esgotasse fomos os dois para minha casa (...) tivemos tempo suficiente dentro um do outro para perceber que me tinha apaixonado por um desconhecido. A noite passou, e sentia que não podias fugir de mim outra vez, que finalmente te tinha ali retido entre 4 paredes e que não havia escapatória possível… mas a verdade é que desde que partilhei a mesma cama contigo, não me disseste mais nada, não te preocupaste em saber se estou bem, se tenho vindo a subir de cargo no jornal em que estou a trabalhar, se os problemas com a minha irmã já estão resolvidos... nada de nada. Desapareceste do mapa naquele dia de manha, depois de uma longa noite a verter suor, e nem te preocupaste em deixar um bilhete com as tuas possíveis coordenadas. Sei pouco mais que o teu nome, não sei onde vives, se trabalhas, se tens mulher, se tens filhos...não faço a mínima ideia que ser és tu, nem como vieste parar tão facilmente à minha cama, como se tudo se tratasse de uma simples ida ao café. Sei apenas que tenho saudades tuas e que és o único ser que pode substituir as substancias ilícitas que me drogam o corpo e me iludem a alma. Por onde andas?
(fruto da imaginação)
Obrigado. O mesmo se pode dizer deste!
ResponderEliminar